De vez em quando pintam uns movimentos na “blogosfera” (nossa,como odeio esta palavra) que valem muito a pena.
Este “meme” me foi enviado pela
Marisa , querida amiga nova/velha, com quem parece que dá pra falar de tudo. E através da lista (re)descobri a Giu escrevendo no
Torpor e vários outros escribas de texto muito melhor do que o meu. Mas vamos lá.
Esses são meus três primeiros beijos que nunca aconteceram. 1 – O sol da tarde pintava o muro branco do colégio com um tom avermelhado que eu só saberia apreciar em muitos anos. Para o moleque de 10 anos, aquela luz mágica significava somente o fim da Educação Física e o término da semana letiva. Ou seja, o início de dois longos dias sem ver Luciana. Cabelos negros, caindo nos ombros, a camiseta regata mostrando um prenúncio de muher-menina, os olhos negros que olhavam com uma intensidade desconhecida até então.
A turma toda dizia que ela já tinha beijado na boca do Renato, o mais velho da classe e inveja secreta de todos nós. Repetente, seus maduros 12 anos eram uma dificuldade insuperável para nós. Tinha até pêlos debaixo do braço!!!
Na saída para o “especial”, ela fica do meu lado. Nervoso, deixo cair o livro com a rosa que levava para casa como presente de Dia das Mães. Nos abaixamos ao mesmo tempo, e os rostos se acham a milímetros de distância. Sua pele macia, cheirando ao sabonete do banho recém-tomado, convida ao contato.
Por eternos dois segundos, nos quedamos ali. Olho infantil no olho infantil, corações acelerados e o início de uma corrida hormonal até então inédita para mim.
Ainda sinto o cheiro de sua pele e o gosto (imaginário) de seus lábios de menina experiente.
2 – Quando a reunião do Grêmio estudantil chegou ao fim, só sobraram na sala eu – o presidente - e a primeira-secretária, responsável pela ata. Mestiça de Japonesa e Italiana, Yuki era um sonho de consumo de nove entre dez estudantes do segundo ano do segundo grau. Quando nossa chapa venceu a eleição para o Grêmio nos abraçamos inconscientemente e nos vimos olhando nos olhos um do outro em meio à balbúrdia da celebração.
Agora, dois meses depois de tomar posse e em meio a uma disputa intensa com a diretoria do colégio por mensalidades mais baratas e condições melhores para os alunos, nos achávamos flertando descaradamente. Yuki era namorada de um dos meus melhores amigos, linda e inteligente (sempre uma combinação matadora para mim).
Terminando a ata, assinamos o livro e saímos para o frio da tarde de Belo Horizonte. Naquele dia seu namorado tinha ensaio de violino, e ela estava sozinha. Me ofereci para esperar o ônibus com ela, e ficamos discutindo as propostas da Diretoria e as reivindicações dos alunos.
Mas eu só tinha olhos para aquela boca cheia, aqueles olhos semi-puxadinhos e os cabelos longos cascateando por cima da blusa justa do uniforme. Num lampejo de coragem, me aproximei de sua boca, senti sua respiração intensa... e ouvi seu ônibus chegando.
Estranhamente, ela nunca mais ficou até depois das reuniões do Grêmio.
3 – O calor de Maceió em Janeiro era completamente estranho para um moleque de Belo Horizonte. Acostumado aos 20 e poucos graus das montanhas de Minas, sentir o ar pesado e seco dos 30 e lá vai fumaça em um bairro pobre e quente da capital das Alagoas era um suplício.
Ainda mais por estar longe da praia, na casa modesta de uma tia-avó, no meio do Tabuleiro. Eram ruas de terra, que jogavam uma poeira quente e vermelha para dentro das casas. A compensação era ver Andréa, a prima-de-segundo-grau desfilando pra lá e pra cá de shortinho curto e camiseta sem mangas e sem sutiã.
Os hormônios dos 16 anos exudavam pela pele, ainda mais com a visão da ninfeta de 15 anos e pele dourada pelo sol do nordeste. Sem grana para ir à praia, nos restava ficar na sala vendo Sessão da Tarde debaixo do ventilador preguiçoso. Com aquele sotaque melódico e ritmado, a prima diz que vai trazer uma brincadeira “gostóza” para aliviar o calor.
Da geladeira sai uma faca de manteiga, daquelas sem corte. Ela se deita ao meu lado e me pede para ficar de bruços. De olhos fechados, sinto o gelado aço encostar nas minhas costas e mil arrepios percorrerem minha espinha. A faca sobe gentilmente pela minha coluna, até chegar ao pescoço e desenhar uma curva suave e safada pelo meu rosto. A sensação gelada é contra-balanceada pela respiração quente de Andréa, falando baixinho no meu ouvido. “Tá gostózo, primo?”
A resposta é um menear de cabeça e a aproximação daqueles lábios carnudos e convidativos. A faca cai ao chão, já na temperatura ambiente, muitos graus abaixo do que nossas peles sentem.
Seu gosto era tudo aquilo que imaginava. Sua língua achou a minha, e sua respiração ofegante prometia mil paraísos nordestinos e selvagens.
E a voz da minha tia chegando do mercado interrompeu um dos melhores não-beijos da história.
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