Números…

Segundo o IDGNow, o Brasil já tem quase 18 milhões de internautas residenciais. Isto significa cerda de impressionantes 10% da população brasileira navegando em casa – com calma, sem precisar ficar alerta ali no alt-tab pra voltar pro excel ou pro word de trabalho, fazendo o que gosta e vendo o que quiser. E o tempo gasto online também cresceu, para 22 horas e 45 minutos por mês.

Importante também citar que o aumento do número de brazucas se deve aos programas de inserção digital, aos computadores mais baratos e à popularização da banda larga pelos provedores.

O que os dados do Ibope/NetRatings nos dizem? Primeiro, que o público potencial a ser impactado cresce de maneira sensacional. Segundo, que este público tem tido mais tempo para prestar atenção no que lhes é oferecido, clicando mais e com mais atenção. Desde que o conteúdo seja inteligente… ou no mínimo atraente. Terceiro, que um público que não tinha acesso aos serviços, produtos e atrações está entrando verde no mercado. Não chega a ser uma tábula rasa, mas é um potencial de vendas e de conversão enorme.

A tendência é de aumento cada vez maior. Que nós possamos aproveitar este momento para oferecer conteúdos que valham à pena, não meras reproduções de TV e impresso nem ficar no formatinho banner/intervenção. Que tal conquistarmos pela inteligência? Pela inovação? Pelo bom-gosto?

Aí sim, está um bom desafio!

Quem nos conhece mesmo?

Acaba um painel, começa outro.

A bola da vez é a ad:tech Miami, que reuniu ontem e hoje alguns dos executivos top do mercado latino para discutir – o que mais – os rumos da comunicação integrada. Mas o twist da coisa é que os mercados em discussão são bem diferentes, apesar de dividirem a mesma parcela continental. E nem todo mundo sabe o que o vizinho, hermano oubrother está fazendo para se comunicar com seu público, que só agora acorda ou tem acesso às possibilidades digitais.

Daí que temos títulos de key-notes como “Living with the Internet – Experiencing the Digital Revolution from a Latin American and US Hispanic Perspective“, do Fernando Madeira (Terra). E os comentários de quem não conhece o mercado brasileiro, como a peruana Mariví, que se surpreendeu com a falta de “brasileirice” do painel comandado pelo Maurício Palermo (IAB Brasil). Segundo Mariví, “foram poucos insights sobre como os brasileiros se comportam online, quão responsivos são com relação à publicidade online, etc. Este painel poderia ter sido sobre a Romênia ou qualquer outro país. Senti falta de paixão, da cultura”.
E isto vindo de uma especialista em mercado latino, com 10 anos de experiência na TBWA/Lima e depois Worldwide!

Vale checar o blog da edição Miami e esperar o painel de Chicago, que acontece em 31 de julho.

Tá, e agora?

Mais uma repercussão do acordar da indústria da comunicação para a “nova era” digital: o Publisher da AdAge, Scott Donaton, coordenou uma das mesas de debate em Cannes com pesos pesados de agências, como Jeff Goodby (GS&P), David Droga (da hypada Droga5 e Daniel Morel, da CEO global da Wunderman.

A conclusão depois do debate entre estes fodôes do mercado? o buraco é mais embaixo. Depois de ficar todo mundo repetindo o mantra “quem não mudar vai se estrumbicar”, Donaton relata ter a impressão de que poucas pessoas já passaram para a fase “Mudamos assim e assado, fazemos assim agora, usamos isto”.

E os que passaram desta fase não abrem seus segredos de jeito maneira (o que é mais do que natural numa indústria que lida com o intangível). Mas até que ponto reinventar a roda a cada job, sem compartilhar guides e orientações, vale à pena?

Leia o artigo de Donaton e os seus comentários sobre esta questão.

Se lá fora está assim, imagina aqui? Quem tem coragem de dar o primeiro passo?

Mais reflexões

Uma das minhas paradas obrigatórias na ronda diária é o Michel Lent. Seu “Viu Isso?” sempre tem um insight importante, referências que pouca gente tem e textos inteligentes e relevantes.

Nesta segunda ele posta um texto do Sergio Mugnaini, diretor de criação da Almap. O tema, como não poderia deixar de ser, é o pós-Cannes e a constatação de que mudou tudo. Sou suspeito pra falar, pois acredito piamente nisto há muito tempo, mas é muito bom ver que muita gente boa está compartilhando estas opiniões.

Mugnani diz, entre outras coisas, que está mais do que na hora de “[…]ver a Crispin e a Goodby inovarem a cada campanha e querer descobrir como eles conseguem fazer aquilo […] De mostrar que não se ensina internet transformando uma equipe inteira de offline em “criadores” de peças online de uma hora para a outra. As pessoas devem aprender na prática do dia-a-dia dos jobs, integrando os departamentos e enriquecendo os negócios de seus clientes.”

Leia no Viu Isso, clicando aqui

Ondas de choque

Por toda a comunidade da comunicação, reverberam os resultados de Cannes que mostraram que os dinossauros da publicidade finalmente viram que seu próprio meteoro atingiu a Terra e os está levando à extinção.

AdAge, Blue Bus, blogs de profissionais, Meio & Mensagem, Folha de Piraricu do Sul… ninguém ficou impune aos resultados divulgados na França, mas ainda abundam teorias e tentativas de interpretação.

Vai ser interessante ver as referências cruzadas, os relatos de quem esteve em Cannes e quem acompanhou via internet – e teve uma compreensão até mais ampla de quem esteve in loco – sobre que rumo tomar. As conferências, segundo os posts, foram muito mais de constatação da mudança de direção do que de indicações de caminhos claros a seguir.

Os premiados, na maioria das vezes, já haviam sido dissecados em blogs e publicações de todo o globo. Cannes passou a ser ratificador ao invés de lançador de tendências.

E é bom o Brasil ficar esperto. Quem não se adaptar vai ter o mesmo destino dos Velociraptors e T. Rex: virará petróleo e vai acabar impulsionando a próxima geração dominante no planeta Comunicação… os Integrados.

Linha? Que linha?

No apagar das luzes na Croisette, uma verdade absoluta e muito conveniente (não deu pra resistir ao trocailho) emerge:

Finalmente o mundo publicitário tem uma mensagem clara do caminho a seguir… e ele passa pela integração e pelo redefinição do que é uma categoria, de onde passa a linha e, mais importante, se ainda existe alguma linha dividindo competências e feudos.

O exemplo mais claro disso é a premiação do filme Evolution, da Ogilvy para Dove. Nasceu como uma peça para internet, virou referência, teve mais visualizações que os comerciais do SuperBowl e acabou na TV por insistência do público. Resultado: ganhou prêmios tanto em Film quanto em Cyber e virou o símbolo do despertar.

Será que este despertar vai se traduzir em uma mudança concreta aqui no Bananão? Eu espero que sim, mas sinceramente ainda duvido. Os feudos ainda são arraigados demais, os pré-conceitos ainda imperam e na hora de aprovar um planejamento ou uma linha criativa.

Falta quem bata na mesa e responda ao cliente que sim, desta vez o foco não vai ser no filme de 30″ no JN nem nas páginas seqüenciais em Veja e na Folha, mas sim em uma campanha integrada, que leva a mensagem até onde o prospect está, que costura tanto a comunicação institucional quanto as ações de PDV e o marketing social.

Pelo menos, quando esses poucos guerreiros levantarem esta hipótese, terão uma trilhla sonora responsa por trás: o rugir de diversos leões!

Durante a semana vou colocar meus pitacos sobre as diversas categorias, além de relembrar os cases que foram comentados aqui antes e reconhecidos agora na Côte d’Azur.

Por Jeff Paiva.